Os últimos dias nas redes sociais têm sido de muitas partilhas de crianças mascaradas para o Halloween, essa festa que associamos ao país que fica do lado de lá do Atlântico que banha a nossa costa. Por cá e no passado (e ainda em muitas aldeias do nosso país), a tradição por esta altura é pedir o "pão por Deus" ou "pedir os Santos". Confesso que nunca muito desta festa e da forma importada como é vivida por estes dias... Nem o meu filhote foi mascarado para o infantário. Talvez seja pelo mesmo motivo que também não gosto do Carnaval. Mas adiante...
Mas afinal conhecem o verdadeiro significado do Halloween ou do Pão por Deus?
O Dia das Bruxas, festejado na noite de 31 de Outubro, é uma tradição mais característica da Anglofonia. Mas será esta uma tradição efectivamente importada? Remontando às suas origens, o Dia das Bruxas integra a vigília do Allhalowtide, época do ano dedicada a relembrar os mortos, santos, mártires e fiéis falecidos. Muitos são aqueles que defendem ainda que o Dia das Bruxas remonta ainda mais na história até ao povo celta e ao seu festival das colheitas, o Samhain, posteriormente cristianizado pela Igreja. Pois... Para a maioria que julga que se trata de uma tradição importada dos Estados Unidos, o que acontece é exactamente o contrário: foram os colonos europeus, fiéis depositários das tradições celtas, que levaram para o novo continente as suas festas e que fizeram o Halloween crescer ao longos dos tempos até à festa que é hoje e que todos nós conhecemos através dos filmes.
E por cá?
A manhã do dia 1 de Novembro era passada pelas crianças a bater de porta em porta a pedirem o Pão por Deus, que deriva do antigo costume de oferecer pão, vinho, bolos e outros alimentos aos que já tinham partido. Habitualmente, as crianças, ao passarem em cada casa, recitavam versos e recebiam em troca frutos secos ou bolos, tradicionalmente feitos com erva-doce e mel, batata doce ou abóbora.
Sobre esta sobreposição, se assim quisermos chamar, de uma festa não tradicionalmente portuguesa sobre os nossos hábitos mais antigos, o Património Imaterial Português explica:
"A progressiva implantação do Halloween em Portugal constitui um exemplo de ameaça ou risco à continuidade do “Pão-por-Deus” como manifestação do Património Imaterial português, por várias razões. Em primeiro lugar, substitui os versos tradicionais, manifestações da tradição oral da comunidade, por expressões orais originárias do Inglês (“Doçura ou travessura!”/“Trick or treat!”). Em segundo lugar, introduz neste peditório cerimonial infantil o uso de máscaras e fatos muito semelhantes às usadas no Carnaval, mas que tradicionalmente eram totalmente ausentes do “Pão-por-Deus”. Finalmente, e como bem expressam as alterações do nome da tradição, da forma e conteúdo da tradição oral, e também o tipo de máscaras que passaram a ser utilizadas pelas crianças, a introdução do “Halloween” eliminou por completo as conotações religiosas muito presentes na antiga tradição do “Pão-por-Deus”.
Será que não estamos a impedir as nossas crianças de conhecerem aquelas que são as nossas verdadeiras tradições e aquilo que integra a nossa identidade enquanto povo? Mais do que gostar ou não do Halloween, o nosso papel enquanto pais é explicar à criança o significado das coisas e nós próprios buscarmos esse significado para que não façamos algo apenas porque sim. Bem sei que a pressão nas escolas hoje em dia acaba por fazer todos os pais a procurarem o último grito em máscaras para o Halloween (ninguém quer que o seu filho seja o único que não está mascarado), mas não estaremos a deixar que esta pressão da sociedade nos impeça de viver aquelas que são as nossas verdadeiras tradições? Fica a reflexão...
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