Família.
Trabalho.
Azáfama do dia-a-dia.
Agendas carregadas.
Uma interface.
Uma fronteira.
Conflito. Enriquecimento. Balanço. Conciliação.
Quatro palavras para caracterizar uma única realidade.
A relação entre as pessoas, a sua família e o seu trabalho é, provavelmente, uma das questões em parentalidade que mais tinta faz correr. Olhamos para os países da Europa de Norte e quantas de nós não gostaríamos de ter licenças de maternidade mais prolongadas como por lá, podermos ter escolas como aquelas que encontramos por lá e ter as estruturas de apoio às crianças que estes países possuem para podermos viver a nossa realidade de mulheres trabalhadoras de forma diferente.
Pois, num mundo ideal a realidade de lá estaria também por cá e não teríamos mulheres, que trabalham por conta própria, a regressar ao trabalho passado muito pouco tempo dos seus filhos terem nascido. Porque a capacidade financeira nem sempre é a melhor e a rede de apoio, a aldeia necessária, também é cada vez mais inexistente na correria dos nossos dias. Ao mesmo tempo, também não teríamos mulheres a ter de tomar a decisão de serem mães cada vez mais tarde para que não percam o seu emprego e para que possam ter mais alguma estabilidade para poderem dar aquilo que sempre sonharam aos seus filhos ainda por nascer...
Apesar de toda a evolução que tem vindo a ocorrer nos últimos anos que, felizmente, tem permitido a mães e pais poderem usufruir de licenças de parentalidade cada vez mais alargadas, continuamos sempre a ter aquele sabor agridoce de que há ainda muito para fazer neste campo. Desde há uns anos que este tema me tem interessado cada vez mais quando, ainda longe de pensar que iria ser mãe, me dediquei a estudar as relações entre o trabalho e a família durante a investigação para um mestrado que fiz. Aprendi muito nesse trabalho. Fez-me pensar várias vezes nas estruturas de apoio que os nossos locais deveriam ter para que pudéssemos sentir de forma menos intensa ter filhos e trabalhar ao mesmo tempo. Fez-me ver que, se calhar, até temos mais boas práticas a este nível que estão estabelecidas. Faltam-nos é, muitas vezes, que elas sejam colocadas em prática como seria de esperar...
Quando se fala na relação entre família e trabalho, existem pessoas que gerem esta interface de uma forma espectacular e conseguem viver experiências de enriquecimento: o que de bom aprendem num e outro meio, conseguem aplicar e tornar mais fácil a vivência dos seus papéis no trabalho e na família. No entanto, para a maioria das pessoas, vive-se quase sempre uma experiência de conflito. Não só por efeito do trabalho, mas também por efeito da família. Estas duas realidades são, para a maioria das pessoas, como água e azeite que não se misturam e que dificultam, em simultâneos, sermos bons profissionais e sermos bons elementos de uma família. Há que criar estruturas e há que agir para que se consiga o estado ideal de balanço, de conciliação, entre estas duas realidades. E, acima de tudo, enquanto adultos, cuidadores, trabalhadores e membros de uma família, devemos individualmente criar as nossas próprias estratégias que nos permitam lidar com estas duas realidades sem stress. Sem complicações. Não é tarefa fácil nem se consegue de um dia para o outro. Nem existe uma receita infalível que se aplique a todas as pessoas. Uma única coisa é certa: as nossas estratégias enquanto adultos vão ser determinantes para criarmos um ambiente mais feliz, mais sereno, mais mindfulness para os nossos pequenos. E isso vale todos os sacrifícios que possamos fazer!
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