Parent shaming... Um nome estrangeirado que, à primeira vista, podemos pensar que é mais uma coisa esquisita que alguém se lembrou de inventar. Mas olhem que está bem presente todos os dias...
Escrevi, sobre o livro "Educar com o coração" da Cristina Tébar (Montessori en casa), que este livro tinha tido a capacidade de mudar a forma como olhava para alguns aspectos da minha vida e do dia-a-dia. Verdade seja dita, acho que foi a primeira vez que enchi um livro de post its a assinalar aquelas passagens que sei que irei ler mais tarde e adaptar aos diferentes momentos do tempo em família. Posso não ser uma seguidora purista do método Montessori mas existem pequenas coisas faladas neste livro que valem a pena ser revisitadas, em diferentes momentos, para nos fazer desacelerar e voltar a ter um passo mais de maternidade a passo de caracol.
Uma das passagens que assinalei no livro foi a parte em que a autora ajuda a desmistificar a ideia que muitos pais têm de que "não estou seguro de que Montessori seja o ideal para os meus filhos". Bem, nesta frase está Montessori como pode estar qualquer outro assunto relacionado com a parentalidade: baby led weaning, fraldas descartáveis, natação para bebés, passeios ao ar livre em pleno Inverno, papas caseiras vs. papas de compra, amamentação! Enfim, qualquer coisa que esta lista não acaba aqui! Tanta coisa mas que facilmente, numa qualquer conversa entre pais, pode inflamar os ânimos e fazer surgir comentários menos agradáveis e certezas absolutas! A esta forma de julgar os outros pais, umas vezes mais camuflada do que outras, Cristina chama de parent shaming. Sobre Montessori, ela escreve:
"No entanto, o que é - sem dúvida - uma verdade incontestável é que Montessori é que não é para todos os pais. Somos nós adultos, aqueles que, talvez pelas nossas convicções ou expectativas, possamos pensar que Montessori não se enquadra em nós e, por este motivo, assumimos à partida que também não vai encaixar nos nossos filhos. Com respeito a isto, gostava de reforçar a ideia de que se deve sempre respeitar e não julgar as decisões de cada família. (...) É sempre bom informar, mas quando uma família toma uma decisão devemos respeitá-la. É importante não criar guerras entre famílias. Todos nós que temos filhos estamos nesta viagem da educação e o parent shaming não ajuda ninguém" ("Educar com o coração", Verso de Kapa)
Mais do que estas palavras serem apenas válidas sobre Montessori, são válidas também para qualquer outro assunto relacionado com a parentalidade, como disse antes... Ainda ontem comentava um post da Moms cooking for little ones no Facebook numa partilha que foi feita sobre o que se passa em muitos grupos de mães nesta rede social. Na sua essência, estes grupos podiam funcionar como pequenas "tribos" de ajuda entre mães em que fossem partilhadas as suas dúvidas sem serem atiradas pedras pelas suas opções. Bem sei que nem sempre as opções que por lá são partilham possam ser as que consideramos mais adequadas... Mas, nesses momentos, devemos tentar ajudar esclarecendo com fontes que saibamos que são fidedignas (como estudos científicos) mas com serenidade e calma. Claro que nem todas as pessoas querem ser ajudadas (sobre estes grupos, muitas vezes questiono-me se alguns dos posts não passam mais por chamadas de atenção e que possam por detrás estar assuntos mais graves que nem nos passam pela cabeça...) mas não é por isso que devemos passar a margem do razoável e fazer comentários demasiados incisivos. Devemos tentar ajudar, dentro das nossas possibilidades, mas sempre respeitando as opções que aquela família tomou.
As fraldas descartáveis podem não funcionar connosco... Podemos achar que fazer papas caseiras é a coisa mais complicada do mundo (quando apenas bastam 10 minutos para ficarem preparadas!). As pedagogias mais alternativas devem ser só coisas de gente rica e filho meu vai passar todo o inverno fechado em casa protegido contra o frio... Ou a saltar em todas as poças que encontrar pela frente...
Todas estas opções são exactamente isso: opções de alguém que as tomou pensando que se trata do melhor para a sua família e para o seu filho. Temos de aprender a passar a mensagem com que nos identificamos, ajudando que nos está próximo, mas sem que isso seja sinónimo de apontar o dedo e fazer a outra pessoa sentir-se a pior do mundo. Lembrem-se sempre que, mais cedo ou mais tare, esse dedo pode estar apontado para nós próprios e, nesse momento, não nos iremos sentir bem...
Por uma maternidade a passo de caracol e por menos parent shaming!
Comentários
Enviar um comentário