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Dar uma prenda, sentar num canto... Queremos condicionar as crianças tipo Pavlov?

Quem nunca, enquanto criança, não recebeu um presente porque teve boas notas no final da escola ou porque se portou bem pode comer um gelado? Quem nunca recebeu um castigo da professora quando andava na escola porque se enganou a dizer a tabuada do 6? Quem nunca viu uma mãe ou um pai a perguntar o que oferecer à criança em nome da Fada dos Dentes? Quem não se lembra, das professoras à antiga, que tinham uma cadeira especial no fundo da sala para quando nos esquecíamos de fazer os trabalhos de casa?

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... Ou então podemos nunca ter concordado muito com esta postura da oferta e elogio fácil e do castigo por dá cá aquela palha...

Desde que pensei em ser mãe que houve alguns aspectos a que me dediquei a pensar, a ponderar e a imaginar no que seria quando chegasse o momento. E esta questão dos elogios e dos castigos foi, talvez, uma das que pensei. Não sou a favor de que se elogiem as crianças apenas porque respiram... Podem achar que estou a ser exagerada mas acho que, em muitos casos, se chega a este extremo e aprece que a criança tem de receber um brinquedo sempre que faz algo que era suposto que ela fizesse. Por outro lado, sou contra o castigo e da mão leve. Isso não leva a lado nenhum e pode ter sim o efeito contrário aquele que esperamos.

Mas e o que se pode dizer sobre este assunto à luz de Montessori?

Num artigo interessante da página Lar Montessori, intitulado Ordem em família II: Prémios e castigos pode ler-se "Presentear uma criança pelo seu bom comportamento seria como dar um bombom a um monge que conseguisse manter o silêncio e a castidade. Seu prémio é o amadurecimento de sua personalidade, a sua ascensão espiritual. O único que lhe poderia presentear não está entre nós". O que se pretende, segundo Montessori, é que a criança se desenvolva e ganhe consciência dos comportamentos correctos e dos menos correctos, sem que (qual condicionamento de Pavlov) associe o fazer bem a receber um brinquedo novo ou a poder comer um gelado e o fazer menos bem a ser castigado... Montessori baseia-se na liberdade guiada da criança por um adulto preparado que lhe permita ganhar a autonomia necessária para fazer sozinho e para descobrir o mundo sem condicionamentos desnecessários. No artigo Prémios e castigos: Não obrigado do blog Jardim da Descoberta pode ler-se que "Não oferecer prémios e recompensas nem aplicar castigos tem como objectivo favorecer a auto-motivação e a autodisciplina nas crianças; isto é, a criança realizar qualquer tarefa por sua própria satisfação, em vez de o fazer para conseguir um prémio ou evitar um castigo". E será que não é isto que queremos que as nossas crianças desenvolvam durante o seu crescimento?

Claro que temos que criar uma abordagem diferente à situação correcta e menos correcta adaptada à idade da criança mas o que importa ter presente é que "Montessori não evitaria nunca o carinho, a conversa franca e, por que não, o elogio. Tudo isso pode existir, sim, mas devemos ter em mente que não somos nós que recompensamos a criança pelo seu amadurecimento pessoal e pela sua aprendizagem. É ela mesma, sua mente e sua percepção da própria evolução" (Fonte: artigo do Lar Montessori). Mas será que não andamos a distribuir demasiados "muito bem" quando o nosso filho nos surpreende com as pequenas coisas que vai fazendo? O Jardim da Descoberta diz-nos que "Numa situação prática, a criança acaba de realizar uma atividade da vida prática, como por exemplo colocar a roupa na máquina de lavar, e no final nós dizemos orgulhosos “muito bem!”. Aqui é como se estivéssemos a dar um prémio, e se continuarmos a fazê-lo em todas as coisas que a criança faz, estamos, sem querer, a condicioná-la ao nosso “muito bem”. Futuramente ela vai estar à espera de recebê-lo sempre, e quando não o receber irá perguntar-se “será que não fiz bem?”. A última coisa que queremos é criar uma criança com dúvidas e que questione a forma de agir dos adultos. Nós somos o seu exemplo na construção da personalidade e da conduta e, por isso, nunca devemos agir de uma forma que pareça um nevoeiro e que deixe a criança meio perdida... Aí não estaremos a ser o adulto preparado de que ela necessita a seu lado. 

Caminhando a passo firme ao lado dos nossos filhos, como adultos preparados em permanente aprendizagem e mutação ao mesmo tempo que eles se desenvolvem, sem interferências ou condicionamentos, estaremos a contribuir para que eles cresçam num ambiente seguro para as suas decisões e sentimentos, permitindo-lhes ganhar autonomia e consciência dos seus actos.

Porque, no fundo, aquilo que esperamos dos nosso filhotes é que um dia cheguem junto de nós e nos digam, de forma espontânea e sincera, "Mãe, Pai... Já viram como arrumei bem os meus brinquedos?".


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