Hoje assinala-se o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil. Os dados são claros: milhões de crianças em todo o mundo são afectadas por este problema, principalmente nos países da Ásia e da África subsaariana. Quando se fala em trabalho infantil, a imagem que nos vem logo à cabeça é a de crianças dos países chamados de terceiro mundo ou em vias de desenvolvimento, em condições subhumanas, a produzirem os ténis último modelo da Nike ou as malas mais caras de marcas como Louis Vuitton ou outras semelhantes. A nossa imagem sobre esta questão é naturalmente deturpada pelos muitos documentários que passam na televisão sobre este temas. Imagens de crianças subnutridas colocadas a trabalhar pelos pais, sendo elas, em muitos casos, o único ganha-pão da família. Mas será esta uma realidade assim a tantos quilómetros de distância?
Aqui bem perto, dentro das nossas próprias fronteiras, quantas crianças não coseram sapatos tardes e noites a fio em vez de estarem a brincar ou a estudar como seria esperado para a sua idade? Quantas famílias colocaram, nos idos anos do Estado Novo, as suas crianças a trabalharem na agricultura? Ou até mesmo mais recentemente, quantos casos não temos deste tipo na Europa?
Mas o trabalho infantil também tem o seu lado mais cor-de-rosa e que, na maior parte dos casos, teimamos em fechar os olhos porque é o sonho escondido de muitos pais? Pois... Trabalho em televisão quando a criança não o deseja, longos castings em agências de moda mais ou menos sérias ou a loucura desenfreada de envio de fotos com a ânsia de ver o filho ou a filha a aparecerem na publicidade da marca de eleição? Não será este o trabalho infantil do século XXI e das sociedades mais desenvolvidas? Não estará o desejo dos pais e a ânsia de 15 minutos de fama a condenar a infância de muitas nossas crianças? Não estaremos a criar futuros adultos iludidos com a realidade e focados apenas e somente num lado mais fútil?
Posso estar a colocar o dedo na ferida, posso estar a ser demasiado brusca com esta situação mas... Choca-me o que muitos pais fazem com os seus filhos apenas que eles possam aparecer na televisão... Sacrificar a infância, o descanso, a brincadeira e o estudo em prol de alguns euros a mais na conta será que vale a pena? Chamem-me conservadora. Exagerada... O que quiserem... Mas não será isto o mesmo trabalho infantil das crianças que estão por detrás das muitas etiquetas de roupas de marcas top made in China, Made in Paquistão ou made in Bangladesh, para citar apenas alguns exemplos? Pensem nisto...
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